sábado, 24 de março de 2012

Novelinha - Parte 2/2

Recomendo que leia "Novelinha - Parte 1/2"


(...) Eu estava muito confusa e a raiva de ontem estava voltando, porque, comecei a lembrar do motivo do início daquilo tudo e foi me dando mais raiva ainda do meu namorado - naquele momento ex-namorado, porque eu já tinha dado um ponto final na relação, só faltava comunicar a ele. Toquei a campainha do apartamento de cima, uma mulher de meia idade abre a porta, com um sorriso largo de verão. "_Em que posso ajudar você, mocinha." "_Eu queria falar com o Théo. Ele est..." Nem consegui terminar a frase e ele me aparece de toalha perguntando quem era. "_Mãe, pode deixar a Ana entrar. Você me espera aí, garota." Ele falou.

Entrei pensando na confusão que vai ser terminar o namoro de novo com o Márcio e o quanto ele vai dizer que não é certo, e vai querer justificar ter me deixado esperando e blá blá blá. Nesse meio tempo entre meus pensamentos e a realidade senti um aroma agradável - reconheci seu cheiro de ontem - , o Théo me aparece vestido com uma camisa xadrez, entreaberta, em seu peito uma corrente dourada com uma letra "T", provavelmente do seu nome - a essa altura eu esperava que fosse mesmo - , cabelos molhados, uma calça jeans, um sapato bonito, a barba por fazer, estava pronto pra sair. Não pensei muito e ele segurou na minha mão, deu tchau pra mãe dele que de algum cômodo da casa o respondeu: "Tudo bem, filho. Te espero pro jantar." Mas eram nove horas da manhã, quer dizer que ele não iria almoçar em casa, eu preciso ligar pro Márcio.

"_Precisa conversar comigo. Mas aqui em casa não é o lugar, posso te levar num lugar melhor, um lugarzinho bacana? É só um café. Aceita garota? Prometo te deixar livre na hora do almoço" Respondi com um aceno com a cabeça, sem palavra alguma, e ele parecia que lia meu pensamento, meus olhos. "_Você ainda parece confusa. Não se preocupe, tudo tem uma primeira vez e que bom que eu te reconheci entrando naquele lugar. Lá era horrível, se ficasse mais um pouco, talvez não saísse inteira." Vi seu sorriso torto e reconheci ele de novo. "_Eu tenho um namorado. Ou tinha... Depois de ontem não quero ver ele nem de longe." "_Eu sei, conheço o Márcio." "_Conhece?"

Fiquei em silêncio até entender de onde mais eu poderia conhecer o Théo, mas certamente eu nunca o tinha visto junto do Márcio. Então ele completou: "_Conheço ele só de vista, vejo ele do seu lado sempre e ele é amigo de uns colegas meus. Mas seja lá o que ele te fez, não poderia ter deixado você entrar naquele lugar. Ah... Meu nome é Théo. Acho que você já deve saber, ou quem sabe lembrou de ontem." "_É... Pois é, lembrei de ontem. Eu não estava tão mal assim." Senti a mentira descendo pela garganta arranhando, mas não queria me tornar uma boba logo agora que ele já estava entendendo o que aconteceu. Descemos até o hall em silêncio agora, entramos no carro dele - reconheci o cheiro do seu perfume quando chegou mais perto para abrir a porta - e seguimos até um bairro próximo.

Não sou de pegar caronas com estranhos mas, depois de ontem ele não era mais estranho, me ajudou, foi gentil, e o que eu tinha que fazer era apenas retribuir a ele com a minha companhia naquele café. Comemos alguma coisa, tomamos um café - e descobri que ele gosta do café exatamente como eu, puro e muito quente - conversamos sobre outras coisas e de repente, o assunto inevitável, "ontem".

"_Preciso primeiro te pedir desculpas e segundo te agradecer. Confesso que não identifiquei você logo, mas quando disse meu nome eu fiquei tranquila em reconhecer a sua voz." Mesmo sem saber quem ele era na hora. Lembrei enquanto fazia descer mais um gole de café. "_Imagina, eu faria por qualquer pessoa. Mas, depois que você abriu a porta, eu quero dizer que deixei você na cama como estava. Fechei a porta, mas não pude trancar né. Mas acho que nosso condomínio é um lugar seguro. Não aconteceu nada com você." Agora podemos rir disso, pela manhã quando acordei, não foi essa a sensação que tive - eu pensava ao mesmo tempo. "Agora posso dizer que é muito seguro morar no nosso condomínio." Eu disse.

Acho que nos entendemos, fiquei feliz em saber que ele foi cuidadoso comigo, mas eu tinha gora um outro assunto a resolver. "_Obrigada pelo café, Théo." "_Obrigada pela companhia, Ana. O Márcio é um rapaz de sorte." "_Ah... Sua namorada também tem muita sorte. Você é bem legal. Já o Márcio, a partir de hoje não terá mais" Ri e parei com os olhos nos seus, em seguida reparei mais uma vez na corrente dourada no pescoço... "_Não tenho ninguém. Acabei um relacionamento longo há pouco tempo." Ficamos em silêncio eu pedi desculpas quase feliz por isso. 

Ele fez questão de pagar a conta sozinho, entramos no carro e ele me deixou sã e salva no hall do condomínio - de novo - , depois voltou pro carro. Eu subi um pouco mais feliz, o papo foi bom, o café estava ótimo e agora eu precisava só resolver... Eu vinha pensando alto essas coisas, falando sozinha e quando cheguei na porta do meu apartamento o Márcio, aquele idiota que me deixou plantada no meio da rua ontem e me fez passar por tudo aquilo - parte daquilo era realmente bom, mas a outra parte não. Afinal eu estava apaixonada - ou pensava que sim. "Ana, me perdoe..." "_Eu não vou fazer isso de novo, por causa de você ontem eu..." Interrompi a fala, pensei comigo mesma que ele não precisava saber que eu sofri por causa dele de novo. Dei o fora, abri a porta do meu apartamento e entrei, sozinha. As vezes precisamos fazer coisas difíceis.

Passei o sábado em casa sozinha, não liguei pra amiga nenhuma, nem respondi mensagens. Tomei banho e lembrava do café, assisti dvd e lembrava do café, comia alguma coisa e lembrava do café, corria na esteira e só lembrava do café, de como foi tudo tão mais fácil hoje de manhã depois que o Théo segurou a minha mão e me levou até o melhor lugar e de tempos em tempos lembrava do fora, do Márcio e de tudo que acabou. Agora eu começo a refletir que o meu relacionamento com ele não era bem paixão, menos ainda amor - não mais - , estávamos acomodados um com o outro. Seis anos e meio, desde a adolescência eu era "o amor da vida dele", mas na verdade, dentro de mim ele não passava de uma companhia boa quando estávamos juntos, e quando não estávamos, era só o meu lado inseguro e acomodado quem o queria. Eu achava que mais ninguém pudesse me fazer sentir o que eu senti no início daquilo tudo, e também não sabia como o "grande amor da minha vida" tinha se tornado aquilo.

Eu estava agora emocionalmente separada, livre e desimpedida - ou pelo menos, tentando estar.

Já é domingo de manhã e agora que eu já arrumei tudo dentro de mim, depois de passar um dia inteiro pensando demais, resolvi acordar. Levantei da cama, tomei um banho, fiz aquele processo de sempre: Uma roupa melhor, um brilho nos lábios, perfume, rímel, sapatilha - amo sapatilhas - , cabelos presos como sempre, tomei coragem e fui. 

Apesar de ser domingo, como em dias atípicos acordei tão cedo. É que dormi demais ontem. Desci animadamente as escadas e cheguei até o hall de entrada - moro no primeiro andar então, não costumo aguardar o elevador - e decidida logo ao acordar, achei que deveria ir tomar um belo café da manhã num lugar especial, isso mesmo, fui até o tal bar-café. Demorei uns quinze minutos até chegar lá - não perdi muito do meu bom humor esperando a condução não - cheguei lá, escolhi o meu pedido e de repente alguém coloca a mão no meu ombro direito - Eu estava de costas para a entrada, não via quem chegava - , reconheci o cheiro dele, Théo. "_Agora você sabe meu esconderijo matinal. Minha mãe sempre me trouxe aqui, e agora não consigo mais deixar de vir todos os finai de semana, que chova ou que faça sol." "Não era a minha intenção desmascarar seu esconderijo." Rimos juntos, ele completou o seu cumprimento com um beijo no meu rosto.

Sentamos juntos, fizemos o mesmo pedido, contei para ele sobre o fim do meu relacionamento, pedi desculpas de novo pelo acontecido aquela outra noite, mas ele me pareceu fingir muito bem que não importava com nada mais daquilo. Saímos do café, ele estava de carro, me ofereceu uma carona, afinal... "_Moramos no mesmo condomínio" Repetimos juntos nessa hora e depois rimos até entrarmos no seu carro. Ele abriu a porta para mim, assim como da outra vez, me acomodei no banco da frente, olhei a minha esquerda e ele olhou pra mim. Nossos olhares se encontraram e o silêncio tomou conta, fiquei tímida, mas deixei que a sua mão fosse conduzida pela sua vontade ao segurar minha face, era um beijo em seguida. Depois daquele dia, nossos cafés da manhã aos sábados e domingos não seriam mais os mesmos.

E o Márcio? É que as vezes o amor acaba e... Bem, o Márcio não sabe onde fica esse bar-café até hoje. Agradeço a ele por aquele fora e aquele porre. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você pode entrar na conversa...